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29 de agosto de 2021

Combatentes em Alerta


DEIXEM QUE A HISTÓRIA FAÇA O SEU PERCURSO NATURALMENTE, SEM SOFISMAS

A história sem Sofismas: a propósito dos mexericos sobre pretensos massacres desencadeados pelas tropas portuguesas nas guerras ultramarinas, recentemente publicados em dois jornais cá do burgo.

Não podemos ficar indiferentes e quedos, mas temos de repor a verdade e limpar o lixo que existe na cabeça dos mais renitentes no olhar vesgo e desfocado da história. Quando mais de um milhão de homens foram atirados para as guerras coloniais, ninguém se preocupou em saber da sua preparação militar nem das carências das famílias que se viram privadas dos proventos que as sustentavam. Também, depois do regresso, não houve o cuidado de dar o devido e necessário apoio e acompanhamento médico e social aos mais vulneráveis e com visíveis sequelas na sua saúde.

Ora, nos 14 anos de guerra, esses mancebos tiveram exemplares comportamentos em todos os locais onde permaneceram, nas tarefas que lhes foram atribuídas e no relacionamento com as populações autóctones. Tudo o resto que se queira apontar de negativo não passa de tentativa para ofuscar a generosidade e a grandiosidade das nossas contribuições para o desenvolvimento geral daquelas terras e de melhoria da vida das populações.

O colossal desenvolvimento dos territórios, com infraestruturas, colonatos agro-pecuários e agrícolas, as estradas, as pontes, os portos marítimos, as linhas de caminho de ferro, as fábricas, as escolas, os hospitais marcam um tempo de esperança num futuro de indesmentível progresso para todas as populações, independente da cor ou da raça.

As grandes obras construídas pelos portugueses, tais como barragens e pontes, em especial a barragem de Cabora Bassa, são um valioso espólio que jamais será esquecido. Este colosso de engenharia implantado no coração de África, com quatro turbinas, produz energia equivalente às sete maiores barragens existentes em Portugal e pode fornecer energia eléctrica a um quarto da população do continente africano. E ninguém fala dessa grandiosa façanha dos portugueses em África, onde ainda trabalham técnicos portugueses para manter em funcionamento tal colosso.

Essa cambada de parasitas, armados em investigadores das lixeiras que o curso da história foi deixando nas sargetas, tal como os escaravelhos, não são recicláveis. Mas, se alguns abusos aconteceram entre as tropas, foram casos pontuais, residuais e marginais perante o importante desenvolvimento da sociedade e extraordinários avanços na coesão social e cívica.

Por mais que tentem denegrir a imagem e desvalorizar os feitos e a generosidade de uma geração de mancebos portugueses, reconhecidos e referenciados por jornalistas de renome internacional e por estadistas sérios e livres, jamais conseguirão apagar as memórias e as qualidades humanas dos combatentes portugueses e de quem com eles conviveu e partilhou parte da vida. Além do mais, respeitem os milhares de mortos e os estropiados causados pelas guerras ultramarinas; sem esquecer os que “ficaram para trás”, abandonados, por lhes negarem o repatriamento com a dignidade que merecem.

20 de Agosto de 2021

Temas actuais – Joaquim Coelho



























6 de junho de 2021

Atributos da Liga... desligados

 

O ILUSTRE CANGALHEIRO DOS COMBATENTES

Chefia uma cambada de refinados generais e coronéis, comanda um batalhão de acomodados na manjedoura do estado, tem instalações bolorentas por falta de uso e primorosos equipamentos abandonados; gasta milhões de euros em fantasiosas exumações de restos-mortais dos combatentes mortos que detesta; fomenta viagens fantasma dos seus apaniguados por terras africanas, onde procuram gambozinos, sem respeitarem os familiares dos mortos e abandonados pelos cobardes e traidores duma Pátria que chora os seus heróis. Numa euforia doentia e tosca, pretende retirar os míseros euros da única migalha anualmente distribuída aos combatentes, com o pretexto de construir lares para meia dúzia de afortunados e amigos, continuando a desprezar as muitas dezenas de milhar de combatentes tolhidos pelas mazelas do tempo da guerra e que vivem miseravelmente abandonados à sua sorte.

Senhor general, saia da Liga dos Combatentes, porque a sua arrogância e o desprezo que demonstra para com os Combatentes são insuportáveis. Passados mais de quarenta anos neste marasmo, é tempo de nos livrarmos dos espantalhos carunchosos que traíram os Combatentes. É tempo de termos a Liga dos Combatentes a desempenhar a suprema missão para que foi constituída: prestar todo o apoio aos Combatentes, protagonizar acções concretas para que os governantes disponibilizem condições remuneratórias para os Combatentes mais carenciados, para que sejam postos à disposição dos traumatizados da guerra meios de disgnóstico e tratamento eficazes, para que os Combatentes tenham um fim de vida com a qualidade merecida, para que a sua prestação à Pátria seja minimamente reconhecida.

Finalmente, os Combatentes ficar-lhe-ão eternamente reconhecidos se o senhor general e a sua comandita desaparecerem, nem que seja para tomarem conta dos mausoléus dos “nossos mortos” que teima em manter e construir em terras africanas, contra a vontade das famílias e dos camaradas de armas que os viram morrer.

10 de Junho de 2015

Grupo de Patriotas e Combatentes por Portugal






Razões e Debates

 

OS PORTUGUESES NAS GUERRAS ULTRAMARINAS


1 – Fundamentos do discurso patriótico

Por natureza, nenhum ser humano deseja a guerra. Os antepassados transmitiam o espírito de luta aos mais novos, por razões de sobrevivência, na disputa dos territórios e dos bens necessários ao consumo humano. Naturalmente que as pessoas tendem a defender aquilo que lhes pertence, mas ninguém tem vocação para o sofrimento que as guerras impõem aos seus participantes directos.

Admite-se que muitos soldados têm relutância em combater, especialmente quando desconhecem a causa do combate. Mesmo o discurso do patriotismo não funciona para todos os cidadãos de igual modo, tendo em conta as mudanças sociais, a idade, o estatuto social ou a identidade com a Pátria.

No caso português, quase todos os combatentes foram empurrados para a guerra em circunstâncias adversas aos seus interesses, com fundamento na preservação do território português, tão propagado pela comunicação social e nos discursos oficiais. As características do povo português têm pouco de guerreiros, mas muito de inocência ou moralismo ancestral, porque sempre fomos um povo mal compreendido pelos governantes com o complexo de superioridade justificado no compromisso mais absurdo da condição humana. A pregação dos superiores hierárquicos nunca foi capaz de justificar as razões da guerra nas terras ultramarinas, gratificante para alguns que colheram bons proventos, mas desgastante e dolorosa para a generalidade dos combatentes.

Para evitarem embarcar para a guerra ou por razões de melhoria de vidas, muitos jovens mancebos abandonaram o país a caminho da emigração clandestina, correndo sérios riscos, passando as fronteiras a salto. Questões controversas, mas atendíveis perante o impasse e o demasiado prolongamento da guerra, sem que se vislumbrasse alguma forma de negociações com os movimentos independentistas.

2 – Razões solidárias, sem consciência heroica

Por pressão dos poderosos interesses estrangeiros, por conveniências políticas e interesses militares, o abandono das terras ultramarinas criou graves prejuízos a muitos milhares de cidadãos que lá viviam, sendo a culpa da descolonização atirada para cima dos combatentes desmobilizados e abandonados à sua sorte. Por isso, aqueles que conseguiram integrar-se na sociedade, trabalhar e participar no desenvolvimento do país, tiveram o mérito de galgar as dificuldades e viver; já o mesmo não aconteceu com os que nunca conseguiram limpar da sua mente os traumas dos momentos difíceis, os quais continuam a carregar dentro de si as imagens terríveis dos mortos e esfacelados caídos a seu lado. Todos merecem respeito e reconhecimento, mas estes merecem, também, solidariedade pública.

Admitindo que muitos dos combatentes entenderam a sua missão fundamentada no sentimento de solidariedade para com os portugueses daqueles territórios, raramente o fizeram com o espírito de luta pela pátria, com consciência heróica. Freud soube definir as premissas que podem levar “os heróis ao espírito de luta” como justificativo da defesa duma comunidade que conduza ao conflito com significado moralista ou de defesa; daí se possa concluir que ninguém vai à guerra para ser herói, porque o sacrifício da própria vida não o justifica, especialmente quando os governantes desprezam a elite de homens que revelaram um estado de espírito altruísta e abnegado em circunstâncias severamente adversas na defesa das causas da Pátria.

3 – Efeitos da guerra na Vida dos Combatentes

Com o movimento de muitos milhares de mancebos das terras de origem para locais e ambientes que nunca tinham imaginado encontrar, muitos deles rudes camponeses e iletrados, a fim de receberem os mínimos de ensinamentos e instrução militar e logo embarcados para as longínquas terras africanas, Portugal teve que gastar avultados recursos financeiros no esforço de guerra, o que proporcionou um inesperado desenvolvimento social e industrial.

Ora, as circunstâncias do ambiente de guerra, em meios desconhecidos e hostis, com graves carências de subsistência, perante o risco de serem feridos e morrer, causaram grandes transformações na formação da personalidade e no desenvolvimento cognitivo dos combatentes; os efeitos nefastos na saúde mental dos militares destacados nos postos avançados, em locais inadequados para viver longos meses em isolamento, sofrendo os efeitos dos bombardeamentos inimigos, alteraram comportamentos e deixaram marcas para o resto das suas vidas. Esses efeitos são mais notáveis na mudança de sensibilidade, no apego à vida, no sentido da solidariedade e da camaradagem cimentada em condições de grande dificuldade e perigo.

O fadário daqueles mancebos começou com o recrutamento, período de instrução e aprendizagem de coisas novas, embarques e longas viagens sobre o mar, entre 8 a 25 dias, atulhados nos porões de navios teimosamente lentos. Mas, o abandono a que foram votados depois do cumprimento do seu dever patriótico, também foi doloroso e penoso, levando muitos a tentar melhorar a vida na emigração.

4 - Abandono ou Reconhecimento

Embora não fossem bem compreendidos na sua missão, os Combatentes não desertaram… e cumpriram o sagrado dever que a Pátria lhes impôs, transmitindo à sociedade os valores duma elite moral e cívica que é cada vez mais rara entre a juventude. É por tais razões que os combatentes são merecedores do respeito e do reconhecimento da Nação, especialmente dos organismos oficiais que devem proporcionar condições de vida tranquila, criando centros de apoio social, psíquico e psicológico para reparar as feridas invisíveis, mas que podem ser detectadas em muitos dos intervenientes na guerra. O reconhecimento passa também pelos apoios sócio-económicos para os que não conseguiram integrar-se na vida profissional activa devido às mazelas resultantes da permanência em ambiente de guerra, que, objectivamente, causou estragos irreversíveis no miocárdio e no cérebro, levando ao desgaste prematuro destes órgãos, bem como à perda de proventos adequados à sua vida normal.

Finalmente, para os que assumiram o compromisso da defesa das causas da pátria, o reconhecimento dos esforços dos combatentes pode ser gratificante, em vez da repulsa e do negativo sentimento de abandono, prejudicial ao espírito de unidade nacional que se pode reflectir na sociedade civil e nas novas gerações. Compreender o passado é fundamental para os alicerces do futuro.

Maia, 10 de Junho de 1995

Joaquim Coelho

Combatente e repórter em Angola e Moçambique







Mortos e Abandonados

 

COMBATENTES MORTOS E ABANDONADOS

 

Caros Amigos

 

Falar dos combatentes mortos e abandonados em campas degradadas e sem o mínimo de dignidade é falar dum assunto que me toca profundamente. E só por isso vale a pena dirigir-me a todos vós, já que está em causa a vergonhosa falta de respeito para com os nossos companheiros de armas.

Em primeiro lugar, nunca deveriam ter sido abandonados, porque partiram da sua Pátria na convicção que cumpriam o dever patriótico imposto pelos governantes e regressavam ao seio da família. Por cobardia dos respectivos comandantes ou por razões logísticas impossíveis de ultrapassar, mais de 3.000 desses combatentes mortos foram enterrados nos mais diversos locais das antigas colónias. Quando em missão no norte de Moçambique assisti a situações de abandono dos mortos, protestei e consegui mobilizar cerca de 200 companheiros para exigir ao comandante do batalhão de Mueda que os três pára-quedistas do meu grupo, mortos numa emboscada, e mais cinco militares do Exército, mortos no rebentamento de uma mina anti-carro, fossem depositados em urnas apropriadas para os trazer para Portugal. Decorria o ano de 1966, tempos complicados para reclamar, mas conseguimos que não fossem depositados no cemitério de Mueda.

Analisando os acordos de paz com os Movimentos independentistas dos antigos territórios ultramarinos, conclui-se que os “nossos” negociadores se esqueceram duma cláusula elementar em qualquer acordo de paz: O REPATRIAMENTO dos mortos em combate. Desde aí, jamais algum governante se preocupou com o assunto. É o desprezo pelos familiares e companheiros dos que “ficaram para trás”.

Quando começamos a indagar sobre a situação, viemos a saber que a Liga dos Combatentes tem gasto do orçamento do Estado cerca de 208 mil euros por ano, para tratar das campas dos “nossos” mortos abandonados em África. Quando alguns antigos combatentes se deslocam a esses novos países lusófonos ficam completamente revoltados com a vergonhosa degradação dos locais das campas. Outros testemunhos de cooperantes (professores, missionários, funcionários de organizações de apoio e familiares de retornados que vivem nesses países) dizem que há indícios de sessões de “magia negra” dentro dos cemitérios das principais cidades, há campas vandalizadas e rumores de que as ossadas são vendidas para uso de feiticeiros na Zâmbia e no Malawi, há populações a reclamar as terras onde se encontram os “nossos” cemitérios. Há construções dentro dos cemitérios e por cima das campas. Tudo isso se passa sem que o governo português tome uma atitude digna, mantendo uma apatia que nos repugna.

Fazendo uso dos acessos privilegiados à comunicação social, a Liga dos Combatentes tem tentado enganar o povo português quanto às dificuldades em trazer para Portugal os restos mortais. Ignorando as dificuldades económicas e de saúde de grande maioria dos antigos combatentes, optaram por gastar dinheiro na recuperação dos cemitérios, concentrando as ossadas em diversos locais da Guiné, Angola e Moçambique, com o argumento do “turismo das memórias”, onde todos poderemos fazer excursões turísticas. Esta ideia, além da imbecilidade do seu propósito, é uma deplorável afronta aos combatentes, ainda mais grave quando vem de gente altamente responsável em cargos do estado.

O Movimento Cívico de Antigos Combatentes está consciente de toda a situação e constata que o dinheiro já gasto, sem qualquer resultado visível, era suficiente para resolver a questão financeira; para as questões logísticas, temos a colaboração das autoridades e colectividades locais de cada país. Haja boa vontade e conjugação de esforços e teremos resolvido este assunto de âmbito nacional, tranquilizando a consciência dos camaradas de armas dos abandonados!

Contra os apregoadores de que devemos pura e simplesmente deixar tudo como está, porque “é uma honra morrer e ficar enterrado no campo de batalha”, nós dizemos: esse argumento só mostra a ignorância de quem o afirma, porque as savanas e os trilhos das matas africanas, onde aconteceram as emboscadas e rebentaram as minas, não se podem comparar com as planícies das Ardenas ou da Normandia da Europa. Muitos desses arautos defensores dos inoperantes generais que usam recursos do Estado, em deslocações e viagens, gastando o dinheiro que poderia ajudar no resgate dos nossos companheiros, são conhecidos comandantes ao tempo dos acontecimentos, que se acobardaram e, como tal, também são responsáveis por muitos dos mortos terem ficado abandonados.

 

Joaquim Coelho, membro do Movimento Cívico de Antigos Combatentes-2009

Repórter de guerra







                                        COMBATENTES MORTOS E ABANDONADOS

 

       Quando os poderes instalados nos diversos patamares da governação do país fingem desconhecer o sofrimento das centenas de milhar de traumatizados pelos efeitos dos dramas vividos na guerra colonial, é tempo dos Combatentes mostrarem a sua indignação e protestarem activamente. Estamos fartos de pantominas nas coisas sérias.

       São cada vez mais evidentes as acções políticas no sentido de amordaçar e desprestigiar os cidadãos portugueses, reduzindo-os a simples máquinas de trabalho ao serviço dos interesses malignos da globalização. Tudo isso põe em causa os valores patrióticos pelos quais os Combatentes deram o melhor da sua juventude ao serviço da Pátria; como vão perdendo o medo de recordarem o negrume de muitos dias de carências de toda a ordem, já se afoitam a atirar algumas pedras contra o charco da ingratidão a que foram votados. Integrados na sociedade pós-descolonização e, apesar dos seus dramas pessoais, trabalhando na qualidade de assalariados, empresários ou emigrantes, fizeram-no com o sentido de contribuir para um Portugal melhor. Agora, é tempo de combater todas as injustiças que os atingem só por causa de terem sido “os melhores homens da Pátria”, em determinado período da história contemporânea.

    Estamos certos de que alguns elementos da sociedade que nos acusaram de todos os males que a descolonização lhes tenha causado são os mesmos “colonos bacocos” que nos hostilizaram enquanto combatentes, ignorando a força dos “ventos da história” que mudou as relações entre os povos. Até já lançaram a atoarda de que a questão do regresso dos mortos divide os combatentes vivos; os que aceitam que os restos mortais dos nossos companheiros continuem em terras “estrangeiras” devem fazer parte do lote dos cobardes, desertores e traidores à pátria ou ignoram que a dignidade duma Nação está na forma como trata os seus mortos em combate. 

       Mas, a razão suprema da nossa indignação é saber que os dirigentes da Liga dos Combatentes, à semelhança dos governantes, continuam a tratar os combatentes mortos e abandonados, em cemitérios provisórios e campas degradadas, como os restos mortais dos seres mais reles e indignos da nação. A missão empreendida, por um grupo de “antigos combatentes” e a União Portuguesa de Pára-quedistas, para trazer de volta à Pátria e aos respectivos familiares os “mortos de Guidage-Guiné” trouxe ao conhecimento público a vergonhosa acção da Liga dos Combatentes. Primeiro, usou de diversos artifícios para abortar a missão, incluindo a chantagem diplomática; depois, aproveitou o dinheiro angariado por esse “grupo de combatentes e amigos” para tratar da trasladação ao seu modo: viagens e mais viagens e muita burocracia. Há dois anos que andamos com este caso e não sabemos quando os restos mortais desses combatentes chegarão à terra das suas famílias.

  Sabemos que, as centenas de milhares de Euros orçamentadas anualmente para a Liga dos Combatentes, vão sendo gastas em viagens “turísticas” às terras de África. Os Boletins da Liga dão conta de algum “trabalho” em prol dos cemitérios… Mas os testemunhos dos combatentes que tiveram condições para visitar “as terras onde perderam muitos dos sonhos da sua juventude” demonstram o inequívoco abandono e total degradação dos locais onde ficaram “os nossos companheiros mortos”. “A LIGA NÃO ESQUECE!”, mas gasta o dinheiro sem resultados.

 Braga, 10-05-2012

Joaquim Coelho in “O Veterano de Guerra” 







MORTOS EM COMBATE - O SINDROMA DA COBARDIA

 

Tal como já demonstrámos ao falecido General Lopes Camilo, numa digressão a Pemba (Porto Amélia), lembramos ao Excelentíssimo Senhor General Chito Rodrigues que não vale de nada pagar para pintarem umas tantas pedras desconexas das campas já destruídas se, no essencial, ninguém garante a limpeza periódica e a segurança das sepulturas. São os jornalistas e as autoridades locais que alertam para o tráfego de ossadas em terras de Moçambique. Quanto a Angola, quando nos deslocámos ao antigo Cemitério Novo, corremos sérios riscos de sermos molestados, já que as gentes locais não vêm com bons olhos a visita de portugueses para constatarem a criminosa destruição dos mármores da entrada do Cemitério e das centenas de campas existentes naquele local. Não fora a coragem do taxista que nos acompanhou e teríamos sofrido represálias.

Temos em Portugal um conjunto de responsáveis que um dia responderão pelos gravosos prejuízos causados à Pátria, porque nada fizeram para restituir os mortos aos respectivos familiares e têm desprezado os combatentes que lutam para sararem as mazelas provocadas pela guerra. É mais uma amostragem da sua cobardia e incompetência como chefes. 

Escudados atrás de Instituições públicas, manipulam a opinião pública e os poderes em função dos seus interesses mesquinhos e antipatrióticos, numa campanha indecorosa e triste contra os princípios e valores duma Pátria digna dos seus combatentes mortos e abandonados na lonjura das terras africanas.

È por causa de pessoas deste calibre que a Liga de Combatentes, servil da política dos cobardes do Ministério da Defesa, vai liderando a ideia aberrante da “Conservação das Memórias”, gastando muitas dezenas de milhares de Euros em deslocações e estadias de “veraneio” de pessoas nada interessadas na resolução definitiva da questão dos mortos e abandonados. Sabemos que seria muito mais económico e seguro transladar para Portugal os restos mortais existentes em campas devidamente identificadas, mas percebemos que isso acabaria com as “férias pagas” para um conjunto de pessoas que estão a servir-se dos bens do Estado, numa total afronta e desrespeito dos companheiros de armas dos que morreram em campanha.

As notícias e testemunhos recolhidos nos países onde se encontram esses restos mortais referem duas situações importantes que é urgente tratar: as autoridades locais não garantem qualquer tipo de segurança contra a profanação e destruição das campas e as populações exigem que esses locais lhes sejam restituídos para outras utilizações rentáveis. Por isso, mostram-se colaborantes para ajudar na remoção das ossadas dos nossos “mortos” com destino a Portugal. E, se não houver uma acção urgente nesse sentido, daqui a pouco não haverá nada para resgatar.

10 de Junho de 2009

Joaquim Coelho


Delegado da Associação MAC em Moçambique






Lembrar para não esquecer...

 

Memórias da Guerra Ultramarina – foi há 50 anos

A tragédia que anunciou o fim do Império ultramarino chegou em 4 de Fevereiro de 1961 a Luanda. A Casa de Reclusão Militar, a Cadeia de São Paulo e a 4ª Esquadra da PSP, foram atacadas por grupos de insurrectos que as assaltaram. A refrega sangrenta deu sete polícias e algumas dezenas de atacantes mortos. A agitação na cidade de Luanda era perceptível desde que as autoridades portuguesas prenderam os cabecilhas da revolta contra a empresa Cotonang, na baixa do Cassange, que obrigava os agricultores a cultivar o algodão a baixos preços.

O sossego em Luanda terminou abruptamente. Foi o atiçar do ódio que se veio a espalhar pelas terras do norte de Angola, a partir da noite de 15 de Março de 1961. Este dia ficou na memória de muitas famílias de colonos como o mais trágico acontecimento no norte de Angola, onde foram mortos mais de dois mil brancos e muitos negros seus empregados. As atrocidades foram tão violentas e dramáticas que ninguém podia ficar indiferente à quantidade de vítimas, entre as quais, muitas mulheres e crianças esventradas. Os que escaparam, fugiram para outros locais na busca de protecção; muitas das vezes, acabaram por cair nas mãos dos sanguinários da UPA (União das Populações de Angola), que os mutilaram, deceparam e mataram.

Nos primeiros tempos da guerra, os combatentes dos reduzidos efectivos militares tiveram que se esforçar até aos limites das suas capacidades humanas para socorrer as populações isoladas nos locais mais desprotegidos da região afectada pela guerra. As companhias de Caçadores Especiais avançaram na reconquista das picadas e da região dos Dembos, com bastante sucesso. Com a mesma finalidade e socorrendo os colonos e populações locais atacadas pelos bandoleiros, destacaram-se os grupos de Pára-quedistas organizados em secções de 9 a 12 homens, com especial relevo na defesa das povoações de Damba, 31 de Janeiro, Maquela do Zombo, Sacandica, Quibocolo, Bungo, Songo, Mucaba, Lucunga e outras onde foram necessárias acções rápidas e eficazes. Destacaram-se alguns elementos mais ousados, entre eles, o Alferes Mota da Costa, os Tenentes Veríssimo e Mansilha, o sargento Santiago, os soldados Eugénio Dias e Pimentel. No decorrer das primeiras missões, morreram em combate o Alferes Mota da Costa, o soldado Domingos e o cabo Almeida Cunha.

Para avançar com mais força na reconquista das terras tomadas pela UPA-chefiada por Holden Roberto, foram mobilizados os Batalhões de Caçadores 96 e 114 e o Esquadrão de Cavalaria 149, para a reconquista de Nambuangongo (santuário das forças da UPA), com o custo de várias dezenas de mortos e centenas de feridos. A Força Aérea foi conquistando os céus do norte de Angola à medida que foram sendo activadas pistas nas povoações; as condições logísticas e materiais permitiram apoiar as tropas do Exército que se foram instalando nas povoações, bem como os Pára-quedistas nas grandes operações de reconquista de Quipedro, Serra da Canda, Sacandica e Inga, locais de difícil acesso por terra.

A guerra durou treze longos e dolorosos anos, por ela passaram mais de um milhão de jovens combatentes, que deram o seu melhor ao serviço duma causa que pouco lhes dizia. Serviram a Pátria que juraram defender, independentemente de ideologias ou de sofismas. Dos cerca de 10.000 militares mortos, mais de 1.700 ficaram lá abandonados em cemitérios improvisados. A guerra deixou mais de 30.000 deficientes; muitos outros regressaram com graves sequelas no corpo e na alma, com as quais vivem os dramas dos traumas e das doenças que lhes tolhem a vida. Mas a grande maioria desses homens souberam manter intacta a dignidade dos bons portugueses, mesmo quando os governantes os desprezam e ostracizam. Cerca de oitocentos mil desses, sem qualquer apoio ou reconhecimento pelo serviço prestado à Pátria, instalaram-se nas mais diversas actividades produtivas, investindo os seus conhecimentos e dinheiros ao serviço de Portugal. A persistência das Associações de Combatentes perante os poderes públicos de pouco tem valido; mas a Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra tem prestado valioso apoio médico e logístico, além dos projectos que estão em curso para construção de estruturas capazes de alojar os que vivem mais isolados e carenciados; é um trabalho meritório que devemos apoiar com brio e convicção.

Como disse num debate público sobre a aferição dos valores que equilibram uma sociedade racional, mantenho a opinião de que a questão dos heróis sempre incomodou os cobardes e os acomodados. Seja no combate para defesa da Pátria, seja no combate aos fogos ou nas missões de salvamento das populações atingidas por flagelos e tempestades. Os valores da solidariedade, da colaboração, da defesa dos princípios democráticos e da paz não dependem de ideologias ou de regimes políticos; aceitam-se, defendem-se e praticam-se. Não há meias tintas; ou se é bom cidadão ou não. Os marginais, os parasitas, os cobardes e os traidores são nocivos à sociedade; uns porque são criminosos, outros são acomodados; é preciso reagir, ser solidário e produtivo. São esses arautos do laxismo e do facilitismo que degradam os valores que devem balizar a aquisição dos conhecimentos necessários ao desempenho com competência, saber e respeito. 

Todos devem merecer respeito pelos anos passados em situações de perigo, sofrimento e privações de toda a ordem; uns aguentaram e foram valentes, outros fraquejaram e continuam a sofrer.

 Março de 2011

Joaquim Coelho – Combatente em Angola e Moçambique - Repórter de guerra