É
URGENTE RESGATAR...
... o que resta
dos nossos camaradas mortos e abandonados nas terras ultramarinas. Para
reflexão e cuidado dos que ainda sentem uma réstia de patriotismo e vontade de
restaurar a dignidade dos Combatentes:
Porque ficaram para trás?
COMBATENTES MORTOS E ABANDONADOS
Quando os
poderes instalados nos diversos patamares da governação do país fingem
desconhecer o sofrimento das centenas de milhar de traumatizados pelos efeitos
dos dramas vividos na guerra colonial, é tempo dos Combatentes mostrarem a sua
indignação e protestarem activamente. Estamos fartos de pantominas nas coisas
sérias.
Nas matas de Guilege
São cada vez
mais evidentes as acções políticas no sentido de amordaçar e desprestigiar os
cidadãos portugueses, reduzindo-os a simples máquinas de trabalho ao serviço
dos interesses malignos da globalização. Tudo isso põe em causa os valores
patrióticos pelos quais os Combatentes deram o melhor da sua juventude ao
serviço da Pátria; como vão perdendo o medo de recordarem o negrume de muitos
dias de carências de toda a ordem, já se afoitam a atirar algumas pedras contra
o charco da ingratidão a que foram votados. Integrados na sociedade
pós-descolonização e, apesar dos seus dramas pessoais, trabalhando na qualidade
de assalariados, empresários ou emigrantes, fizeram-no com o sentido de
contribuir para um Portugal melhor. Agora, é tempo de combater todas as
injustiças que os atingem só por causa de terem sido “os melhores homens da
Pátria”, em determinado período da história contemporânea.
Esquecidos...
Estamos
certos de que alguns elementos da sociedade que nos acusaram de todos os males
que a descolonização lhes tenha causado são os mesmos “colonos bacocos” que nos
hostilizaram enquanto combatentes, ignorando a força dos “ventos da história”
que mudou as relações entre os povos. Até já lançaram a atoarda de que a
questão do regresso dos mortos divide os combatentes vivos; os que aceitam que
os restos mortais dos nossos companheiros continuem em terras “estrangeiras”
devem fazer parte do lote dos cobardes, desertores e traidores à pátria ou
ignoram que a dignidade duma Nação está na forma como trata os seus mortos em
combate.
desolação... pela nação!
Mas, a
razão suprema da nossa indignação é saber que os dirigentes da Liga dos
Combatentes, à semelhança dos governantes, continuam a tratar os combatentes
mortos e abandonados, em cemitérios provisórios e campas degradadas, como os
restos mortais dos seres mais reles e indignos da nação. A missão empreendida,
por um grupo de “antigos combatentes” e a União Portuguesa de Pára-quedistas,
para trazer de volta à Pátria e aos respectivos familiares os “mortos de Guidage-Guiné”
trouxe ao conhecimento público a vergonhosa acção da Liga dos Combatentes.
Primeiro, usou de diversos artifícios para abortar a missão, incluindo a
chantagem diplomática; depois, aproveitou o dinheiro angariado por esse “grupo
de combatentes e amigos” para tratar da trasladação ao seu modo: viagens e mais
viagens e muita burocracia. Há dois anos que andamos com este caso e não
sabemos quando os restos mortais desses combatentes chegarão à terra das suas
famílias.
Sabemos que,
as centenas de milhares de Euros orçamentadas anualmente para a Liga dos
Combatentes, vão sendo gastas em viagens “turísticas” às terras de África. Os
Boletins da Liga dão conta de algum “trabalho” em prol dos cemitérios… Mas os
testemunhos dos combatentes que tiveram condições para visitar “as terras onde
perderam muitos dos sonhos da sua juventude” demonstram o inequívoco abandono e
total degradação dos locais onde ficaram “os nossos companheiros mortos”. “A
LIGA NÃO ESQUECE!”, mas gasta o dinheiro sem resultados.
Esses senhores
não estão interessados em dignificar os Combatentes, e muito menos trazer de
volta os que “ficaram para trás”. A sua filosofia dava para rir, se não fosse
tratar de causas muito sérias. A ideia manifestada por um senhor General,
dirigente da Liga dos Combatentes, sobre o “turismo da memória” é mais uma
afronta aos que lutaram e morreram ao serviço da Pátria e um escárnio à dor das
famílias que os perderam. Os poucos que têm condições económicas para visitar
as terras onde combateram não vão lá em “turismo de memórias” mas para acertar
algumas contas com um passado que deixou marcas psíquicas profundas. Só que, ao
verem o abandono a que foram votados os seus companheiros mortos, sentem um
arrepio de revolta contra tal situação.
Outra
ideia desajustada e infeliz é a de que devem ser exumados os restos mortais e
transportados para cemitérios centrais; ou seja, ficam sempre em “território
estrangeiro”. A ignorância das realidades da guerra colonial – guerra de
guerrilha – está na cabeça dos que afirmam que se deve “honrar os mortos
enterrando-nos no campo de batalha”. É utópico pensar-se que a África é a
Europa e que o espaço onde se desenrolaram as batalhas das “guerras mundiais”
se pode comparar à selva, matas e savanas onde aconteceram as escaramuças
(emboscadas, flagelações de fogo, rebentamento de minas e outras formas de
combate). Essa realidade está nos cemitérios centrais, como Luanda e Maputo
(Lourenço Marques), completamente vandalizados e destruídos. Quando sabemos que
as lápides das campas dos “nossos combatentes” são vendidas como troféus no
“mercado do Roque Santeiro” de Luanda e que as sessões de “magia negra” são
realizadas no que resta desses locais sagrados, só podemos manifestar a nossa
repulsa pela política e regras que são o mais retrógrado no tratamento do
repatriamento dos mortos que ficaram abandonados. É ponto de honra para uma
Nação civilizada entregar os mortos em combate às suas famílias; quem negar
isso, está a usurpar um sagrado direito de sangue.
Companheiros, o desgaste das nossas vidas é um factor
com o qual os responsáveis da governação contam para que tudo continue como
está – abandonado. Só que não percebem que ainda temos forças para mostrarmos
porque “fomos os melhores homens da Pátria”. Não podemos continuar a ser
enganados, vejam o que diz a Liga dos Combatentes quanto a objectivos: no que
respeita a África, está tudo em lastimável abandono e degradação.
destruição... vergonhoso abandono
Numa deslocação a terras africanas, alguns membros do
“Movimento Cívico de Antigos Combatentes”, tiveram o cuidado de falar com as
autoridades locais, civis e militares, onde estão cemitérios de combatentes
abandonados – todos eles estranham que ainda não se tenha feito a trasladação
dos restos mortais dos “nossos mortos” para Portugal. É coisa que eles já
fizeram com combatentes de outros países. Mostram-se colaborantes no trabalho
de exumar esses restos mortais, incluindo a logística para o embarque com
destino a Portugal. Por outro lado, essas autoridades estão a ser pressionadas
pelas populações para tomarem posse das terras onde estão as campas dos
soldados portugueses. Os responsáveis da Liga nem sequer têm em conta as
diferenças culturais sobre a veneração dos mortos.
Com membros da Associação de Combatentes de Moçambioque
Cte dos Comandos de Moçambique
SOLUÇÕES:
É tempo de unir os combatentes para acabar, de uma vez
por todas, com a ineficácia das acções da Liga dos Combatentes, exigindo aos
governantes que o dinheiro das dotações orçamentadas seja gasto no tratamento
sério do problema dos que “ficaram para trás”. Sem preciosismos inadequados
para as pesquisas forenses, poder-se-á resolver a questão de duas maneiras:
1 – Exumar e entregar às respectivas famílias os
restos mortais que estão em campas identificadas – há muitas campas com os
nomes escritos e existem croquis arquivados.
2 – Depositar em campa comum, junto ao Monumento aos
Combatentes-Belém, os que não têm qualquer identificação nem constem nos croquis
arquivados.
Entretanto, se alguma família fizer questão dos exames
de ADN, serão tratados caso a caso e às suas custas.
Se continuamos neste engano do “faz de conta”, além de
prolongarmos a dor que abala os familiares e os companheiros de jornada,
estamos a pactuar com uma vergonhosa acção de esquecimento das nossas memórias.
Os actuais dirigentes da Associação dos Veteranos de Guerra já deram provas do
seu empenho e seriedade com que tratam este e outros problemas que afectam o
bem-estar dos combatentes. Com o empenho de todos, mantemos a esperança de que
Portugal será o local de repouso dos que se bateram e morreram nas guerras ultramarinas.
cemitério descapinado em 2005
sinais do abandono
Joaquim Coelho, combatente em Angola, por obrigação... em Moçambique, por imposição.
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